Três anos depois de uma caminhada solitária pela calota polar do oceano Ártico, Thomaz retornou ao Ártico, dessa vez integrando uma forte equipe canadense, que tinha como objetivo percorrer o último grau de latitude da Terra, até o Polo Norte Geográfico (90 graus Norte), o topo do globo. Mas, ao invés de utilizar os esquis como se fossem raquetes de neve, dessa vez os canadenses iriam esquiando até o Polo, isto é, usando o gliding (capacidade de deslizar) dos esquis – técnica esta que Thomaz, escalador, não dominava.
Depois de 2 meses treinando com esquis nos pés no gélido inverno canadense, Thomaz participou de uma expedição de treinamento na remota Cordilheira Torngats, no extremo norte da Província de Quebec, no Ártico canadense. Deixada por um avião que pousa no gelo, na superfície congelada do Lago Korok (59 graus N), nascente do rio homônimo, a equipe desceu esquiando a superfície congelada do rio por mais de 100 km, enfrentando ventos e temperaturas polares.
De volta a Ottawa, Thomaz e a equipe de 8 pessoas que iria ao Polo, embarcaram para Moscou e, de lá, à Khatanga (71 graus N), ponto de partida das expedições ao Polo. Depois de um período de treinos, um avião, depois um helicóptero fretado, os deixou no ponto de partida.
Na caminhada até o Polo, a equipe experimentou uma série de inovações nos equipamentos, alimentos e técnicas de esquiar – que Thomaz ajudou a implementar durante a fase de treinamento. No percurso até o Polo o grupo teve que contornar ou atravessar inúmeras fendas no gelo, sempre sob temperaturas entre 20 e 30 graus abaixo de zero, fora o vento.
A equipe chegou no Polo Norte às 01h30 da manhã – horário de Brasília – do dia 28 de abril, onde permaneceu quase 10 horas, até ser resgatada por um avião. O relato dessa expedição foi incluído, no ano 2000, como um último capítulo do livro “SOZINHO NO POLO NORTE”, publicado três anos antes.
Cordilheira Torngats
Expedição de treinamento no final do inverno, na remota cordilheira Torngats, no extremo norte da província de Quebec - Canadá.
Em Moscou, a caminho da Sibéria central.
Khatanga – extremo norte da Sibéria central. Aqui pegamos o avião polar que nos deixou na base, onde pegamos o helicóptero que nos deixou no ponto inicial, escolhido por nós
Khatanga
janela em Khatanga – extremo norte da Sibéria central.
Helicóptero que nos deixou no ponto inicial.
A calota polar está em constante movimento, conforme os ventos da superfície e as marés, fazendo com que se fragmente em placas de gelo – algumas com milhares de km2. Quando duas placas se chocam, forma-se uma barreira de blocos imensos de gelo.
Acampamento sobre o gelo. Ao invés de “resistir” aos ventos, nossas barracas foram projetadas para “ceder”. Não tinham estrutura alguma (arcos, espeques etc). As laterais eram apoiadas nos bastões de esqui (que carregávamos nas mãos) e a ponta dos estirantes presos pelos esquis (que carregávamos nos pés). Um esqui de pé, no centro, dentro dela, completava a montagem.
Fendas abertas, algumas com quilômetros de extensão, era uma constante no caminho até o polo. Eram contornadas sempre pela direita (leste) pra compensar o deslocamento da calota para oeste.
Ao invés de contornar as fendas mais estreitas, improvisávamos uma “ponte” jogando blocos de gelo na água, de maneira a formar um “colchão” de gelo sob os esquis de cada pessoa.
Atravessar fendas recém congeladas evitava longos desvios, mas sempre havia o risco do gelo fino ceder e a pessoa afundar na água, com grande risco de morte.
Às vezes, perante um sistema complexo de fendas em todas as direções, tínhamos que avaliar com cuidado a direção a seguir.
GPS não marca 90 graus Norte, o Polo Norte Geográfico da Terra. Ele marca no máximo 89° 59’ 999” (89 graus, 59 minutos e milésimos de segundo de latitude). No polo não existe mais norte-sul-leste-oeste. Apenas Sul!!