Depois de retornar da sua 2ª. expedição à Antártica, Thomaz fez sua primeira expedição à calota polar do Oceano Ártico. É uma região com características, dificuldades e perigos bem distintos daqueles que ele conheceu no Alaska, no Himalaia ou mesmo na Antártica.
Com mais de 5 milhões de km2 (no verão), a calota polar é uma gigantesca casca desértica de gelo, com no máximo 3 metros de espessura, que cobre a superfície do oceano Ártico. Em vários pontos, a camada de gelo não chega a poucos centímetros de espessura!!
Os desafios para quem vai a pé e sozinho são imensos. Temperaturas abaixo dos - 40 graus C, 24 horas por dia, durante semanas a fio; ventos que rebaixam a sensação térmica abaixo dos 70 graus C negativos; rajadas de vento que ultrapassam os 100 km/h; neblina, fendas no gelo, e o drift da calota polar, isto é, o movimento da calota causado pelas marés e ventos na superfície, que muitas vezes sabota os esforços de quem se atreve a percorre-la. Além disso, tem que lidar com eventuais encontros com ursos polares, o maior carnívoro do reino animal.
Para tentar vivenciar as mesmas sensações e perigos dos antigos exploradores, o projeto do Thomaz teve um conceito simples e minimalista - em vez de abrir mão de tecnologia (nos alimentos, equipamentos, etc.), abriu mão de ter qualquer estrutura ou ajuda externa. Ao invés de um barco moderno e equipado, explorou uma região do Ártico a pé, puxando atrás de si apenas um trenó, com tudo que precisava para sobreviver por um mês; e dormiu numa pequena barraca de camping, sem aquecimento.
Em vez de ter amigos para lhe fazer companhia, lhe ajudar a montar a barraca num dia de muito vento, ou lhe avisar (ou tirar) de uma fenda escondida no gelo, foi absolutamente sozinho. A expedição, que tinha como objetivo alcançar o Polo Norte Magnético da Terra, começou com uma visita à vila Resolute Bay, na Ilha Cornwallis, no extremo do Canadá, em meados de novembro (início do inverno), para conhecer os esquimós, e testar no frio extremo um sem número de equipamentos.
Na sequência, passou 2 meses treinando com esquis e trenó nas trilhas de parques nevados na região de Missoula, no estado de Montana, no noroeste dos EUA. Em meados de março voltou a Resolute Bay. A temperatura ficou em -42 graus C, 24 horas por dia, nos primeiros 7 dias.
Enquanto aguardava o avançar da primavera e os dias terem 24 horas de luz, Thomaz foi se familiarizando com um cão polar alugado dos esquimós, que lhe faria companhia com o objetivo de lhe proteger dos ursos polares. Na virada para o mês de abril, um pequeno avião que pousa no gelo deixou Thomaz e o cão, a quem ele chamou de Bruno, próximo à costa da ilha Bathurst, onde Thomaz começou sua caminhada solitária. Durante 20 dias, com um trenó de 100 km atrás de si, enfrentando as asperezas do clima polar, e um encontro com uma família de ursos brancos, Thomaz caminhou até o norte da Bathurst, quando se deparou com uma grande extensão de mar descongelado, que o forçou a encerrar a jornada. Um ano depois Thomaz lançou a obra “SOZINHO NO POLO NORTE”, pela L&PM Editores, onde narra todos os detalhes da expedição e o que aprendeu na nessa jornada.
Resolute Bay – final do inverno.
Na vila Resolute Bay, Ilha Cornwallis, Ártico canadense – terra dos Inuits.
Crianças Inuits de Resolute Bay.
Fotos de amigos e parentes que iriam decorar minha barraca durante a travessia.
Traçando a rota no GPS
Preparando os esquis na oficina da pousada – em Resolute Bay, dias antes de iniciar a travessia.
Como enfiar tudo dentro do pequeno trenó?? À direita o par de botas polares, projetadas para 70°C abaixo de zero.
Com um simples facão, finalizando o iglu.
Dentro do iglu a temperatura ficava estável em 12° negativos. Lá fora, 42°C abaixo de zero.
Aprendendo a fazer um iglu, com o Inuit Simon.
Eu e o cão Bruno ao lado do avião que nos deixou a 90 km de Resolute Bay, para dar início à travessia. Trenó com quase 100 kg de carga e uma mochila com 10 kg. Trenó do cão pesava 45 kg.
Detalhe da superfície da calota polar.
Momentos de relax sobre a calota polar.
A 42°C negativos, a transpiração saia pelos poros da roupa e da barba e congelava assim que tocava o ar polar.
Barraca sempre montada paralela ao vento predominante, para não ser destruída. Bruno ficava do lado de fora. Um dos esqui funcionava como mastro da antena do rádio. No céu, a última lua da primavera. Dali para frente os dias teriam 24h de luz e ela não seria mais avistada.
Meia noite nos primeiros dias de abril (primavera).
O trenó do Bruno foi feito de madeira pelo próprio esquimó, dias antes do início da travessia.
Pegadas de urso fêmea e dois filhotes. No 7º. dia da travessia a ursa e um 01 filhote chegaram a menos de 100 metros de nós.
Quando o Bruno ficava atento, de vigília, era sinal que havia urso por perto. Eu ficava com minha shotgun calibre 12 sempre à mão.
Acampamento visto de cima da Ilha Bathurst.
Bruno estava acostumado a comer carne de foca. Mas o cheiro forte atrairia ursos. Teve que se adaptar à ração.
Todos os dias às 18h era hora de passar minha posição pelo rádio.
O cão Bruno, a quem “dediquei” o livro Sozinho no Polo Norte, pela sua bravura e lealdade.
Começando a travessia na costa da ilha Bathurst.
Como todo cão polar, Bruno se mostrou extremamente forte, inteligente, e agressivo e corajoso em relação a outros cães e a ursos, mas comigo era carinhoso.